O CTO deveria pôr as "mãos na massa"?

Este capítulo possui uma versão mais recente:

O homem que sabe “como” sempre terá um emprego. O homem que sabe o “porquê” sempre será seu chefe.
Ralph Waldo Emerson

A responsabilidade primária do CTO é apontar a direção estratégica da organização com relação a tecnologia. Em uma empresa de maior porte, esta demanda é suficiente para consumir todo o seu tempo. Em negócios menores e, principalmente, com orçamento limitado as expectativas podem ser perigosamente diferentes.

O CTO é o responsável por perguntar e responder questões relacionadas ao “porquê” e não ao “como” das coisas. Embora a visão tática e a capacidade operacional não sejam deméritos, a ênfase em questões do dia-a-dia pode acabar tirando do executivo sua capacidade de enxergar o negócio holisticamente, atrofiando a competência tecnológica em nível corporativo.

Outro problema comum para em CTOs que se mantém “com as mãos na massa” é a possibilidade de conflitos operacionais com o time agravados pelo poder – a combinação explosiva das crenças de “eu sei” com “eu mando”. Ou seja, ao invés de se concentrar em dar a direção, o CTO rivaliza com o time para determinar não apenas o quê precisa ser feito, mas também a forma.
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Você percebe esse risco?x

O CTO deve, por exemplo, ter condições de avaliar as vantagens e desvantagens da adoção de determinadas tecnologias e ponderar sobre os benefícios e dificuldades em estabelecer parcerias. Ele não precisa saber usar a nuvem, mas precisa entender claramente o porquê adotá-la ou não. Cabe ao executivo entender os ganhos do uso de contêineres justificando investimentos para adequação à tecnologia. Em termos simples, o CTO precisa saber “fazer as contas” ou, pelo menos, entender como elas são feitas. Aliás, a habilidade de entender relatórios e análises financeiras é fundamental para todos que exercem função executiva e, isso, não é diferente para o CTO.
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CTO realmente precisa saber 'fazer contas'?x


Investimentos em infraestrutura podem impactar consideravelmente os resultados conforme a modalidade de aquisição. O CTO precisa entender as diferenças (às vezes sutis) de CAPEX e OPEX e o impacto da escolha da modalidade utilizada no TCO.

O CTO também precisa conseguir fornecer estimativas de ROI. Precisa saber se o faturamento na empresa (e nos fornecedores) ocorre em regime de caixa ou de competência. Também precisa saber o que significa EBITDA e muito mais.

A alta gestão, invariavelmente, trata de aspectos financeiros. Mesmo que alguém esteja super preparado sob o ponto de vista técnico e estruturar os times de forma ótima, precisará, em algum ponto, se sentir confortável com relatórios e análises financeiras ou não estará preparado para ajudar a ditar os rumos da organização.

O CTO, como todo executivo em seu nível, deve ser capaz de traduzir a estratégia da organização em metas objetivas que direcionem o time. Sem elas, facilmente se perde na subjetividade.

Em última instância, são os resultados financeiros obtidos que propiciam à organização a capacidade de realizar seu propósito. Ao CTO é atribuída a demanda de fazer com que seus pares no C-Level entendam e colaborem para o sucesso utilizando recursos tecnológicos da forma certa, que os times entendam para “onde a empresa está indo” e atuem de acordo.

Líderes técnicos que sonham em CTO precisam aceitar que, em algum momento, terão que ler um pouco menos de Hacker News e um pouco mais de Valor Econômico (Financial Times, etc).

A migração da ênfase no “como” para o “porquê” não é fácil e demanda amadurecimento gerado por tempo e pressão. É louvável para aqueles que conseguiram e um desafio gigante para aqueles que ainda estão no início da jornada.

Em empresas menores ou em contextos mais simples o CTO pode “pôr as mãos na massa”, mas precisará lembrar de lavar as mãos quando voltar a realizar o trabalho principal que, de fato, a empresa precisa que ele faça. Dificilmente quem está imerso nas entranhas da execução consegue ver a perspectiva de “fora para dentro” – assim, torna-se reativo e, com o tempo, menos útil. 

Ram Charam ensina que quando um gestor se ocupa com atividades de dois níveis diferentes da estrutura organizacional, estará condenado a executar apenas as atividades do nível mais próximo da operação. O CTO “mãos na massa” pode até ser visto como um parceiro pelo time, o que é bom! Mas, lembre-se: se fosse para “programar”, você não precisaria de uma posição executiva.

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Daniel Polistchuck
Daniel Polistchuck
3 anos atrás

Único ponto aqui é que a confusão que normalmente se faz entre CIOs e CTOs aparece no texto, quando cita sua responsabilidade pela definição da estratégia tecnológica da companhia. CTOs com atribuições amalgamadas de CIOs certamente sim. CTOs “puros” (que se preocupam
com a estratégia da engenharia) provavelmente não (a não ser no que tange à plataforma do produto tecnológico da empresa).

Rafael Schettino
Rafael Schettino
3 anos atrás
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Percebo, sim. Inclusive com o CTO tentando “emplacar” tecnologias que vendeu para o CEO sem antes preparar o time para absorve-las.

David
David
3 anos atrás

Super esclarecedor. Inclusive, acho que valerá um capítulo inteiro com comentários sobre a migração de Techlead para CTO.
Eu como tech lead, venho me preparando para essa jornada de CTO e várias vezes me pego em hacker news mesmo.

David
David
3 anos atrás
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Concordo, porém acho que vale também mencionar os casos onde isto não é tão problemático. Ex: Empresas em fases iniciais onde o CTO é o responsável pela visão da tecnologia e também responsável por construir (org de tech 1-20 pessoas). E que geralmente quando passam de um certo ponto ou o papel muda, ou eles mudam para algo como Chief Scientist

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Fundador e CEO da EximiaCo, atua como tech trusted advisor ajudando diversas empresas a gerar mais resultados através da tecnologia.

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